sábado, junho 11, 2011

Lúcifer - O primeiro Anjo O Anjo Perfeito

CAPÍTULO I



A luz e a serpente

Antes do tempo, havia a eternidade. E, ao seu fim,
ela será tudo que restará. Pois a eternidade é o tempo do Deus Único.
Sua essência e Sua morada.
E, no vazio e na escuridão eternos, Deus
conhecia o Bem e o Mal.
Não como Seus filhos, depois dEle, mas na
forma mais pura e poderosa que essas duas forças jamais existiram,
guerreando no âmago do Senhor para libertarem-se uma da outra.
O
destino do Universo, ainda a ser criado, foi decidido nessa batalha
primordial,
quando finalmente o Bem se mostrou mais forte e prevaleceu.
Assim,
Deus arrancou o Mal de dentro de Si e aprisionou-o firmemente em Sua mão
esquerda para que jamais escapasse. Uma sombra irracional de ódio e
desespero, enfraquecida pela separação e humilhada pela derrota,
serpenteando entre os dedos de Deus com um único desejo: vingança.
Livre
do Mal, Deus cresceu em poder e amor. Porém, nada havia para Ele amar.
Então, Ele ergueu Sua mão direita, e dela se fez a luz. Um clarão tão
intenso que os olhos do Senhor se fecharam. Era o nascimento do tempo
como o conhecemos. Pois a luz, que deveria ser eterna, serenou.
E, em
seu pequeno ponto de origem, sobre a descomunal palma da mão direita do
Senhor, havia agora a mais linda criaturinha. Tão perfeitaquanto o
próprio Criador. Um delicado bebê, de ralos cabelos negros e envolto em
suave luz própria. Ele era à imagem e semelhança de seu Pai
Todo-Poderoso, à exceção do par de delicadas asas que trazia às costas,
com
penas de um branco tão vívido que pareciam brilhar.
O pequeno ser
abriu os olhos em um sorriso de puro amor e viu Deus chorar de alegria.
Uma alegria que Ele não imaginava possível. Tomado pelo inédito
sentimento, o Senhor proferiu Suas primeiras palavras, revelando Seu
Santo Nome ao amado filho.
Com o coração inundado pela graça de Deus,
o bebê bateu as diminutas asas pela primeira vez e voou. Ele disparava,
rodopiava, subia e descia numa dança frenética de felicidade. Repetia
sem parar o Nome do Senhor, num louvor de amor inconteste. Desejava voar
para sempre em torno de seu Deus.
E ele voou e voou, enquanto o
tempo passava e ele amadurecia, vindo o bebê a transformar-se em um
menino. Para Deus, era como olhar a Si mesmo como criança.
Sobrevoando
a imensidão do Senhor, repentinamente, o jovem alado experimentou um
sentimento diferente do amor, tudo que conhecera até então. Uma sombra
escura e opressiva desceu como um manto sobre ele.
Erguendo o olhar,
ele percebeu, a uma distância imensurável, uma das enormes mãos de Deus
segurando um espírito negro que se contorcia e vibrava numa luta sem
trégua para libertar-se.
O menino ficou ali, parado, flutuando inerte
no limbo, num misto de surpresa e estranha fascinação por aquela forma
obscena.
– Essa é a Besta que habitava dentro de Mim – revelou Deus. –
Não a tema, pois não permitirei que ela lhe faça mal.
– Como pode
um ser tão medonho haver existido no seio do Criador, que é só bondade,
razão e beleza?
– A natureza de Deus é um mistério além de sua
compreensão.
– Sim, meu Senhor – disse o jovem, baixando a cabeça. –
Eu perguntei apenas pelo amor e preocupação que tenho para com o
Todo-Poderoso.
– Lembre-se, Meu filho. Além da Minha perfeição,
dei-lhe a sabedoria.Use-a para reconhecer e debelar o Mal, se algum dia
este se insinuar em seu coração ou se aventurar de longe para atingi-lo.
Pois maiores são as forças do amor e do conhecimento. Contra elas, nada
podem a
fúria e a selvageria.

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